Pitico Studio

Boas idéias vendem mais

(13) 3271-9226

Av. Pedro Lessa, 2023
1º e 2º andares
Santos-SP

CEP: 11025-003

A História da Pitico

Entrevista de Mário Campos, fundador da Pitico Studio.
Trecho do Livro - "Para não morrer na Praia" - Entrevista realizada em 07.01.2005

Eu comecei na realidade na Elfi Propaganda, fazendo estágio, né. Eu era moleque, tinha uns dezesseis anos, nem fui registrado. Era do lado da Tribuna, trabalhava aquele cara que era, trabalha na produção hoje na Tribuna, aquele moreno, um moreno, alto... não me recordo do nome, é muito tempo. Mas era do lado da Tribuna. Acho que quem trabalhou lá, na época, era uma menina, tem uma agência hoje, mas é difícil lembrar. A Elfi fazia lançamentos de prédios. Era do lado da Tribuna. Tanto é, que a sirene do meio-dia da Tribuna tocava e saía todo mundo correndo. A janela era do lado da sirene entendeu, daí tocava meio-dia todo mundo saía correndo e ia embora almoçar.

Eu entrei lá e comecei fazendo aquele “ioioio”. Era a única coisa que eu fazia, comecei fazendo aquilo. Pegava os layouts, via a marcação e tinha que marcar o texto. Então eu ia lá “ioioioio”... ficava o dia inteiro fazendo aquele treco. “Aqui tu marca mais pesado, com esta caneta, pra dar mais peso”, “ioioio”. Aí, eu não sei como, eu fui pra Design Publicidade. A agência era da Betinha, ela trabalhou bastante “ tempo. A Bete foi muito conhecida na época. O pai dela era construtor. Eu acho que até hoje eles estão no ramo, ainda, em São Paulo. Porque eu os vi uma vez na praia, até lembraram de mim.

Fiquei na Design uns três anos (entre o final da década de sessenta e o início dos anos setenta). Tinha várias pessoas lá. Eu acho que, pra época, era uma agência até razoavelmente grande para Santos, né. Tudo era nessa faixa, nessa média. Na época tinha a Sinex, tinha a Design, tinha a Hugo Paiva, a Clã. A Hugo Paiva era maior. A Design até que durou. Eu saí, ela ficou, ainda, acho que por uns quatro, cinco anos. Durou bastante tempo. O João Carlos (Gonçalves) trabalhou lá. E eu já estava lá, acho que há uns dois, três anos, aí entrou o Joãozinho. Foi aí que eu conheci o Joãozinho. O João continuou e eu saí.

Na Design eu fazia layout. É porque a agência também estava começando. Eles trabalhavam em São Vicente, na casa da “Bete, quando eu fui pra lá. Eu era inexperiente, garotão ainda, né. Era dentro da casa dela. A gente começava a fazer o layout, daí ela trazia o material, queria assim, assado. Eu não tinha experiência nenhuma, nunca tinha visto. A única coisa que eu vi de publicidade, foi na Elfi, aquelas meninas trabalhando, eram duas meninas, na época. Aí comecei a fazer, a desenhar, me inspirava muito nos anúncios do Mappin (famoso magazine de São Paulo). Achava aquilo o máximo. Eu queria fazer publicidade, nem sabia o que era publicidade. Meu pai tinha um bar, né. Então, eu ficava copiando os anúncios do Mappin. Eu ficava no balcão do bar fazendo anúncios, copiando anúncios. Eu não me dava bem com o meu pai. Era uma briga danada, eu nunca falava pro meu pai, que vinha de comércio, meu tio tinha panificadora, que eu não dava pra esses trecos.

Os anúncios do Mappin, acho que eram os melhores do varejo. Sei lá, há vinte, trinta anos atrás. Eu pegava aqueles anúncios de página, aquelas putas ilustrações com aguada! As ilustrações de roupas que os caras faziam... puta negócio bonito, né... Eu achava tudo aquilo... era arte! Eu ficava encantado “com aquilo. Aquele Mappin, grandão, bonito, aqueles caras desenhados, pintados... Eu já sabia o que queria. Aí, foi assim que eu comecei. Eu já entrei na Elfi porque gostava de desenhar.

Daí eu entrei na Clã (sua admissão consta nos registros da agência em junho de 1973, aos 18 anos). Saí da Design e fui pra Clã . Sim, pra Clã, que era lá na Senador Feijó. Aí saiu anunciozinho, saiu um anúncio da Clã. Eu fiquei até com medo... Eu lembro até hoje que a Clã fazia aqueles anúncios grandes e os da Elfi eram muito pequenininhos, tão pequenininhos... “Pô, eu vou lá”... Eu ainda fiquei um tempo trabalhando na Design. Vendo aqueles anúncios grandes, da Clã, eu fiquei com medo: pra anúncio grande deve ser um cara bom que eles querem, né. Mas eu fui lá, levei os anúncios (que copiava). Eu tinha pouca experiência, ainda dois, três anos, um pouco mais, era praticamente nada.

Aí fui pra Clã e era grande! O negócio era legal! Puta, a melhor fase de trabalho que teve foi na Clã! Tinha o J.C. Lôbo, tinha o Gilberto Amaral. Puta! Tinha uns paus ferrados porque era do lado daquele Bingo Show Dança “Não sei se te falaram já, que o Gilberto brigava, chamava a polícia, o caraco! Os caras começavam a ensaiar e ele queria fazer as criações, né. Puta... os caras começavam a tocar, a ensaiar, ele abria a janela e quebrava o pau! O Gilberto também brigava muito com o Miller, saía no pau, mesmo. Eles se pegavam, era um negócio! O Batan apartava.

Era eu, o Batan, o Batan trabalhava na prancheta, o Joãozinho, que veio depois. Ficamos em cinco no estúdio, era legal. Praticamente, eu acho que o estúdio era carro chefe na época. E na redação era o Gilberto Amaral, sozinho. No atendimento era o Miller, o restante eu não lembro. O Miller e o Gilberto Amaral brigavam porque tinham diferenças de visão de como trabalhar, de como levar a empresa. A gente não se ligava muito, não. Mas tinha vez que quebrava um pau danado, mas a gente não se ligava no porquê da briga, não sei se era por causa de anúncios que não saíam... porque o cara demorava pra fazer a criação.

Na época, o Miller parece que tirava um pouco de sarro do Gilberto. E o Gilberto, como era aquele cara que “quase nunca fazia atendimento... ele era mais estrela do que o Toninho! Aí era grave, ele vinha com uns paletós... aqueles negócios pra fora, todo (produzido)... era, bem... (fashion). Ele veio de São Paulo e depois foi pra São Paulo, de novo. Mas era estrelão. Eu achava, na época, que a gente (em Santos) tinha uma visão diferente. Quando a gente está no início, a gente tem uma visão, quando a gente é pequeno... Eu entro aqui (estúdio atual), achava que isso era grande. Mas é tão pequenininho... Pra minha época, na minha visão daquela época, o Gilberto era bem estrela. Era um cara, todo mundo respeitava ele. Por ser estrela, porque não dava muita abertura pra você falar... Tem uns caras que você tem que manter uma certa distância.

Quer dizer, pode até ser que quem mandava era redação, e ele mantinha o pessoal à distância, não discutia, não conversava, era ele quem mandava, acima do atendimento. Sempre teve esse negócio (Criação x Atendimento). O Lôbo era sócio... era o Lôbo, Gilberto Amaral e Miller. Mas como Lôbo parece que também não se dava bem com o Gilberto, sempre caía nas costas do Batan.

A mim me parece que o que pegava entre os dois era o negócio de entrada e saída de trabalho no estúdio, entendeu. O Lôbo era super escrachado, só queria fazer o trabalho de prancheta normal, não queria se envolver muito, ficava só desenhando, lá. Então, o Batan sempre pegou mais esse negócio de dirigir, liderar. Direção de arte, o negócio (de administrar talentos) do trabalho, de fazer o serviço sair, foi só com o Batan. Havia até a possibilidade muito maior de diálogo com o Gilberto através do Batan.

Eu gostava de ganhar dinheiro também, né. Eu acho que é essa a motivação para encarar o trabalho, a pessoa tem que ser gananciosa. Eu queria ter carro, moto, sair no final de semana... A única possibilidade era trabalhar. Eu sempre tinha dois empregos. Eu fazia free-lancer. Bastante free-lancer. E comecei a fazer pintura, eu acho que estava com 18 anos, comecei a pintar. Eu pintava e expunha na Praça da República, em São Paulo. Aí, coitado, não conseguia vender quase nada. Eu lembro que saía daqui pra São Paulo, cheio de quadros, ganhava pro sanduíche... às vezes, nem ganhava. Mas sabe aquelas de gostar? Eu pintava, eu ia por prazer, tinha lá uns cavaletes e desenhava e pintava.

Na fotografia eu entrei porque fui fazer um curso de fotografia, fiz em Santos. O cara tinha um laboratório na Ana Costa, no quarto andar. Era fotógrafo. Mas o cara era notável, ele fazia autocontraste, fazia filme-traço, fotolitinho pequeno pra fazer uma fotografia diferente. Não lembro o nome dele, mas ele tinha um defeito na perna. Eu acredito que ele foi o precursor da fotografia publicitária em Santos. Mas ele não fazia atendimento. Ele dava aula, mais como meio de vida artístico. Pra você não fazer aquelas fotos triviais, bonitinho e tal. Então ele dava autocontraste, tal... Foi por isso que eu pude mexer com o laboratório da Faculdade de Comunicação de Santos. Eu acho que fiquei uns dois ou três anos, lá. No laboratório de fotografias, quando era lá na Rua Sete de Setembro.

Foi na década de 1970, eu acho que foi o Batan que me arrumou lá. Eu estava na Clã nessa época. Eu sempre gostei mais de laboratório. Mas eu pintava, né. Então, eu fui fazer curso lá na (Escola) Pan-Americana de Artes. Fui fazer um curso de publicidade. Entrei na Avenida Angélica que era primeira Pan-Americana, onde era o curso. “Aí, o que acontece... eu já trabalhava há anos já tinha um tempo de agência, vi que o negócio era meio cru pra mim. Achei o curso fraco, muito fraco. Eu achava que precisava aprender mais e aí até foi bom porque serviu para me autoafirmar. Eu já tinha ido além e nem sabia.

Aí fui falar com o Nico Rosso, não sei se você lembra dele. Era um dos diretores da Pan-Americana, ele ilustrava capas de livros, revistas, quadrinhos. Era internacionalmente famoso mesmo. Era tudo dele. Hoje, o neto do Nico Rosso faz comerciais, mas tudo digital. Eu estive vendo um documentário muito bom. Mas daí eu falei: — “Professor, sabe o que acontece? Eu já trabalho na agência, eu tinha dado a matrícula, já era um dinheiro, saía caro”, eu falei com ele. — “Você trabalha? O que você quer fazer, então?” — “Sei lá, então vou fazer ilustração”. — “Então está bem, eu vou te colocar na ilustração”.

Saí da Angélica e fui pra Conselheiro Brotero, fui fazer ilustração. Aí eles davam um maço de cigarros ilustrado, desenhado, pintado e você tinha que reproduzir passo a passo. Porra, eu fazia rapidinho. No balcão de meu pai eu já pintava, eu já tinha feito curso de pintura clássica na Artelândia (em Santos), já conhecia as tintas, então... E, pra mim, era um sacrifício. Naquela época eu saía às quatro da tarde pra ter aula às oito. Eu chegava em São Paulo eram, sete, sete e trinta da noite. Pegando ônibus aqui às quatro chegava“ em São Paulo, lá na Estação da Luz, com o estômago nas costas.

Comia um pastel e um caldo de cana e quando chegava só tinha bacana. Era um curso caro, não era qualquer um que podia fazer. Só tinha carrão parado na porta da escola. Aí, eu queria fazer um curso pra valer. De novo, eu achei o curso fraco. Pra mim era muito sacrifício, duas ou três vezes por semana. Fui falar com o professor. — “Tu aqui de novo!”. Aí eu falei, pois, é... mas já tenho trabalhos, já venho expondo ali na Praça da república. E pra expor na Praça tinha uma comissão julgadora, não era assim. Tinha uma seleção, tinha que ter licença, tu tinhas que levar três, quatro quadros seus. Então, não era qualquer um que expunha. Tinha realmente que ter alguma qualidade, né.

Então expliquei pra eles, porra. — “O que você quer fazer? Porque ilustração não dá”. – “Pra não perder o dinheiro, pô, vou fazer fotografia, então”. E pensei: pelo menos eu vou fazer e fotografo direitinho as coisas e começo a fazer os quadros em casa, né. Vou fazer os quadros em casa, vou fazendo mais direitinho, com tempo. Foi sorte, peguei um cara assim, acho que todo curso depende do professor, acho que o professor é fundamental. Peguei um cara espetacular, sabe. Era o J. Godoy. O cara fotografava muito de tudo, produtos, carros... era justamente na área que eu estava trabalhando, que era a publicidade. Era fotógrafo publicitário em São Paulo, muito bom!

Lá tinha tudo coisa que eu gostava. Máquinas 4x5 que eu nunca tinha visto... O Godoy só ia de preto. Daí ele tinha uma barbichinha aqui, daí ele ficava... ele era cabeludão, devia ter uns quarenta anos na época, ele ficava com a barbicha aqui, era uma figura. Fazia um tipo, né. Todo mundo tinha um tipo, né, fazia parte. Eu lembro que mais tarde, o Toninho falou assim: — “Pô, você é muito comum. Você tem que deixar o cabelo crescer, fazer alguma coisa, pôr uma roupa diferente... você é um fotógrafo”. O Toninho fazia tipo. Uma vez ele foi com um terno cor de rosa, todo rosa! Hoje tudo bem... mas faz quanto tempo isso! Eu sempre achei que ele era muito talentoso, até em direção de filme.

“O Godoy, tudo o que aprendi de fotografia foi com o Godoy. Acho que o Godoy é um cara, assim, que abriu o campo para a fotografia. Ele abria a sua visão. Eu fazia fotografia de quadros, aprendi como fotografar quadro, que parece uma coisa simplória, mas era uma puta dificuldade. Aprendi a fotografar vidro, tudo, coisa que tem reflexo... Pra gente foi uma escola... Foi muito bom. Aí, no final, tive um estágio com ele, no estúdio dele. Nós tivemos aqueles comes e bebes do final, fomos pra um bar, tal. Aí, ele chamou três caras pra fazer estágio no estúdio dele.

Pô, e eu? Falei pra ele: — “Por que eu não posso ir lá fazer?” — “Porque não sei o que você vai fazer”. Mas pô, eu era meio tímido, naquela época. Mas, porra, eu gostaria de fazer e tal. De tanto insistir ele disse: — “Tá bom, tá bom, então vá, vamos ver se dá pra você fazer um estágio”. Era muita gente, então ele selecionava alguns caras melhores. E me deixou de fora. Mas eu queria fazer aquilo lá! Tanto que falei, chegou uma hora, liguei pra ele duas, três vezes, liguei e fui fazer o estágio “no estúdio dele. Fiquei de novo no laboratório. Fiquei lá uns dois meses.

Eu trabalhava na Clã. Mas conciliava, a Clã permitia essa mobilidade. Eu também era meio rebelde na Clã. Eu lembro que se não deixassem, também, eu iria. Naquela época era meio assim... não tinha aqueles negócios, aquela rigidez de horários, né. Eu fui até pra Argentina, não avisei ninguém. Fiquei uma semana. O próprio Toninho, que tinha aquela paixão fora, lá pro interior, ele se mandava... E a gente lá, levando. — “Cadê o Toninho?” — “Ele foi até ali... Eu não vi”. Não tinha essa rigidez no estúdio porque tinha mais gente cobrindo.

Mas as coisas eram mais demoradas. Fazer um layout... levava uma semana pra fazer o layout! Pra fazer uma arte-final eram três, quatro dias... Tinha que mandar pedir fotocomposição por São Paulo, você deve saber direito. A porra demorava pra cacete. Só pra pedir um tipo de letra você tinha que contar as letrinhas, tinha uma régua que a gente contava o bloco de texto, o cara batia na máquina. A gente chegava lá e contava os toques de máquina pra poder fazer com que aquele bloco de texto coubesse dentro daquele espaço. Então, tinha toda uma matemática que a gente fazia. Era meio dia que a gente ficava trabalhando nisso. Aí, a gente mandava pra São Paulo, pelo Expresso Luxo. A gente retirava o lacre, compunha uma coisa e tal, mandavam pra gente, pra Santos.”

“Quando ia para a gráfica, era página de fotolito que tinha. Mas antes, bem antes disso tinha a composição que era feita em papel glacê, que não era nem fotocomposição. A gente pedia pra (gráfica) Unida. Então, vinham aqueles tipos de chumbo, o cara marcava onde a gente queria, no anúncio, ia sair no domingo. Então era na sexta-feira que ia pra São Paulo ou às vezes na quinta. Ia lá, tirava uma prova em papel glacê, aquele papel todo brilhoso, cheio de tinta, o cara jogava talco quando chegava pra não grudar tinta, pra não borrar. Aí, colava com cola de benzina na página, e mandava pra Tribuna. Isso quando não ia na sexta-feira à noite.

Era um vegetal assim... aquele papel alemão que a gente usava. Aí, mandava assim: marcado (tamanho, posição) aqui assim, a gente marcava o título aqui, isso aqui era tipo tal, caixa alta, não sei o que, tal e tal. Aí havia um outro bloquinho de texto ali, marcava corpo tal, e tal. E o cara fazia o clichê direto lá na Unida, só com a folha vegetal. Chegava sábado de manhã chegava o clichê, às vezes, era um clichê de zinco e outro de plástico que era pra dois, três jornais. Você vê a mão de obra que dava. Era gostoso naquela época. Fotografia... A gente tinha que trabalhar assim porque não havia outro jeito. Aqui tinha (o serviço) no jornal A Tribuna, entendeu. A Tribuna também fazia, mas se quisesse melhorzinho, né... tinha que mandar pra fazer em São Paulo. Senão, você mandava o anúncio mas... ficava com o que? Ficava com cara de anúncio do jornal, porque era o mesmo tipo de letra (para o jornal e para serviços de terceiros).

Na época era Consórcio dos Professores que a gente tinha, era Sapataria Internacional, lembra? Eram páginas duplas... o varejo era forte. E onde a Clã predominava era no varejo. Ou jornal era barato ou se vendia muito. Acho que naquela época a gente ganhava mais dinheiro, eu acho. Até eu. Eu comecei a fazer freela, a trabalhar sozinho. Na época da inflação eu ganhava muito mais dinheiro do que ganho hoje, muito mais. Às vezes, você estava de casa cheia, tu não queria pegar algum trabalho, não dava tempo pra fazer nada. Lembro uma época que eu tinha uma clínica como cliente, eu trabalhava na Clã. “Eu dei o orçamento pro cara... eu não queria fazer o trabalho porque não tinha mais tempo pra fazer. Não tinha mais espaço. Aí... mas eu queria atender, quem me indicou foi Eduardo Conde Bandeira, que hoje é secretário de turismo de Santos.

Na época ele era presidente do Caiçara, eu fazia umas coisas pro Caiçara Clube. Aí, ele me levou lá. “Você não quer atender lá, fazer uns folhetos...”. Tinha que falar com o Dr. Eduardo Gomes de Azevedo que é o responsável, nem sei onde ele está agora, era metido pra caramba. Ele tinha umas oito ou dez clínicas. E uma vez por semana ele ia em cada clínica, fazia o atendimento. Ele ia de Mercedes, aquela limousine Mercedes preta, em todas as clínicas dele (Clínica Anna Aslan). Era muito rico. Ele atendia Pelé, Xuxa, todo o pessoal do mundo artístico.

Intimidava. Era uma besteira porque quando eu entrei e conversei com a recepcionista... Eles faziam o que qualquer um faz aqui, mas era aquela fábula, a clínica tinha nome. Aí, na época eu fui lá, não tinha nem roupa adequada. Eu estava meio apertado mas fui no shopping e comprei um terno todo de linho, era um verde, verde escuro, todo de linho. Era meio verão, né, camisa de linho branca, gravata... “roupa de atender cliente”. Se for pra pegar (a conta)... Aí, ele explicou o que era e tal, tinha tantas clínicas, tinha que fotografar as clínicas, fotografar departamentos. Tudo o que precisava era fotografia e arte (folheteria). “A gente vai gastar quinze mil dólares”. Eu lembro até hoje, quinze mil dólares. Eu vi tudo aquilo... você olhava ali, cada coisa ali, cada porrinha lá custava mil dólares, eu não sou de não “perceber, sempre também fui meio metido a enxergar as coisas, né. Aí eu, porra, eu olhei assim... se eu peço dois mil ele não valoriza o trabalho, ele ia achar que eu não estava à altura de atender ele. Eu também li um livro que me ajudou muito a conseguir as coisas, aquele O Poder do Pensamento e tinha um outro, de vendas também.

Mas “O Poder” dava a dica assim: o cara deve olhar sempre o cliente antes de entrar. Então, não esqueci quando eu comecei a vender, quando precisei sair pra vender na rua. Teve uma hora que eu saí da Clã (em 1984, para ser empresário). Daí eu precisei sair na rua pra vender (Atendimento) porque o bico só (trabalho como autônomo, para as próprias agências), já não me sustentava e eu tinha muito tempo ocioso. Eu ficava nervoso porque eu não tinha trabalho oito horas por dia... Eu sempre, até hoje, eu fico nervoso quando não tenho a casa cheia. Quando eu não estou com esse sentimento de que eu estou atrasado, eu fico nervoso de verdade. Aí... o livro ensinava assim, quando você está na sala de recepção você sempre observa, avalia.

Você avalia o cara (cliente). Se o cara está atrasado, se o cara vai te atender direito, tudo, ele dava uns toques e eu comecei a fazer a mesma coisa que o livro indicava. E eu ia a hospital, também fiz algumas coisas para maternidade. Eu sempre analisava o cara que ia me atender, eu ficava esperando na porta, o cara entrava, “ah, esse cara é rápido”, daí outro cara entrava, “esse cara...”. Eu sentava na cadeira e observava. Eu aproveitava tudo que era informação. O livro dava as dicas: se o cara tem fotografia de criança na sala, pode ser filho dele, se der uma brecha você fala: “Que criança bonita!”, se tiver troféu, você pergunta. Eu fazia essas coisas, deu certo. Até hoje isso dá certo, não sei se você pega aquela... No começo você fazia através da didática, que você lia, tal.

No meu estúdio fotográfico o meu cliente era basicamente de Santos, nunca tive muitos clientes fora de Santos a não ser esses que também o contato era em Santos. Aí... Todas as coisas aconteceram meio naturais, foi pouco forçado. Eu atendia em Santos porque quando comecei ninguém fazia foto publicitária, acho quem atendia agência de propaganda era só o Zezinho (José Dias Herrera) da Tribuna. Ele, porra, era ele quem fazia todas as fotografias de agência, dentro do conhecimento de reportagem (jornalística). Também, o mercado, não exigia mais do que aquilo, foto de registro. O mercado não exigia, as pessoas que estavam atrás, de repente, dirigindo arte, nem sabiam dirigir o que queriam. Que não havia um conhecimento, talvez, além do que se pedia, né. Aí comecei a fazer as fotografias. Aí, eu aprendi. Bom, eu fazia pra Clã naturalmente, fazia pra Clã direto.

Para a Clã eu já era profissional, não era bico. Lembra da garagem? Foi onde eu montei o estúdio fotográfico da Clã, tinha laboratório, ampliador... mas eu era tão cara de pau que fazia free lance ali. Hoje eu não acho isso normal (não acha ético). Dentro da Clã eu fazia... acho que pra todas as agências. Eu fazia pra Hugo Paiva, fazia pra Sinex, fazia pra... ninguém sabia, ou também sabiam, mas fingiam que não sabiam. Mas fazia as cópias dentro da Clã. Ali eu fui desenvolvendo a coisa de fotografia. Eu sempre cobrei a fotografia. Quando eu já estava bem estabelecido, comecei a atender clientes de São Paulo e Interior.

O meu foi o primeiro estúdio fotográfico exclusivo pra publicidade em Santos. Quem queria fazer assim, antes, tinha que ir pra São Paulo. Então, eu comecei a fazer. Montei o meu estúdio, tinha conhecimento, né, e fazia para todos dentro de uma verba que eu cobrava pra Santos. Eu cobrava bem, mas pra São Paulo o custo aqui era de graça. Entendeu? A relação custo/ benefício era essa. Sempre. Aí começou a vir o Gino. Veio o André. Tinha um outro cara também, boliviano ou paraguaio, outros fotógrafos. E eu, na realidade, abri o mercado pra eles. Eu abri o mercado pra eles... mas em outro sentido... Quando eu chegava e dava o orçamento de duzentos reais para uma foto, chegavam os caras e faziam por cem, cinquenta reais, né. Daí eu comecei a pensar, caramba, cinquenta reais... E tinha um japonês que também fazia fotos publicitárias, o (Roberto) Konda, ele continua fazendo. Mas aqui sempre faziam muito barato. Eu achava que era barato. Por quê? Porque a fotografia de publicidade tem outro valor, sempre teve um outro valor, tem todo um trabalho em cima. Se você relacionar os custos, a gente pagava um xis de aluguel... ficava com seiscentos reais! A gente vai cobrar cinquenta, cem, duzentos reais a fotografia! Era muito barato. Nunca o mercado santista ia ter a chance de ter um estúdio à altura, pra atender o mercado, para evoluir, se cobrasse sempre assim. Como você iria comprar equipamentos? Uma máquina hoje custa trinta mil dólares!

Você está vendo aquela luzinha que está acesa lá, não é a máquina não, é só aquela caixinha: custou vinte e cinco mil dólares. Aquela outra máquina ali eu paguei sete mil dólares. O investimento é alto. Então, a gente nunca ia poder chegar a fazer o melhor. Eu tenho um armário cheio de máquina analógica, máquina de filme... isso aqui é tudo digital. Quando é que eu ia chegar a fazer isso, porra. Pô, e eu também não queria fazer tipo leilão: “Faço por quarenta e cinco!”. Daí, essas coisas me desiludiram aqui. Aí abriu um outro caminho — graças a Deus que os clientes entraram! — comecei a ir pra São Paulo.

Daí eu comecei a fazer outras coisas. Comecei em São Paulo, tem indústria, eu não vou brigar com fulano, sicrano, e eu também sempre achei que era melhor do que eles. Não é querer falar, porra... eu digo assim, sempre me achei com mais bagagem, não querendo menosprezar ninguém, entendeu. Uma bagagem sólida faz diferença. Não adianta também você só ter talento, tem que ter equipamento, não é só ter talento, talento é 25%. Tem que ter máquina, tem que ter tempo, tem que ter acesso, know-how de trabalho, dedicação. Eu passei muitas noites fazendo fotografia, produção, que não dava certo e eu sabia o que eu queria, o que eu tinha na cabeça. Eu sabia e não conseguia fazer! Eu sempre achei que a fotografia não era tirar a fotografia, tinha que fazer a fotografia.

Porque eu aprendi com o Godoy, ele falava pra mim: “Fotografia você faz na prancheta”. E, várias vezes, eu o via lá, ele desenhando. “O que está fazendo?”. Daí ele dizia assim pra mim: “Vamos lá, vamos embora”. Entregava o desenho feito na prancheta. “Já fiz a foto”. Então, ele achava que a fotografia se fazia na prancheta, e na verdade é isso mesmo. Você vai pra concepção da coisa... E é verdade, eu sempre planejei a fotografia. Então, toda fotografia que eu tinha que fazer eu produzia.

Uma vez eu peguei um pedido do Serrinha, lembra da Serra Publicidade? Aí, o que ele queria era uma lâmpada de Aladin. E saindo fumaça. E nessa fumaça tinha que aparecer, tinha que se formar o logotipo da empresa, né. Então, porra, você vai sair em campo e tentar fazer. Você tem que imaginar, tem que bolar, tem que criar a fotografia, né. Então, realmente, era tudo produzido. Toda a publicidade, com o tempo, eu fui fazendo no papel... e isso até hoje. Se eu vou fazer um negócio lá... Eu fiz aquela caixa, aquilo lá, por quê? Cheguei aqui e desenhei, porque eu sabia que tinha que fotografar vidro, uma caixa grande de vidro. Acerta a iluminação aqui no papel, depois passa pra eles (auxiliares) e monta o estúdio. Então, sempre achei que foi um diferencial e realmente foi isso mesmo. Sempre você faz a fotografia no papel, sempre assim.

Aí esse pessoal que começou a vir me forçava a ir pra São Paulo. Pô, não tinha mercado pra todo mundo. Não dava e todo mundo cobrando barato... aí me mandei. Me mandei em termos, né, foi acontecendo. Não foi: “eu vou pra São Paulo!”. Eu não largava daqui porque tinha meus clientes também aqui, alguma coisa que dava pra fazer para Santos. Aí eu peguei um cliente em São Paulo, peguei outro. E sempre foi de boca em boca. Aí comecei a fazer catálogos pra indústrias, de produtos, aí foi.

Eu trabalhava também como agência. Fazia veiculação, muito pouco. Eu não tinha estrutura de agência, tudo. Nem Atendimento. Não era a minha praia. Nunca foi. Eu gostava mesmo é de produzir. Hoje eu sou mesmo Produção. O cara vem e pergunta: -“O que tu faz?” — “Eu faço produção”. Eu produzo catálogo, embalagem, direto. É isso o que eu faço. Quando o cara quer uma embalagem, o cara só manda o galheteiro eu faço a faca, eu crio. Faço o layout, a foto da embalagem. O cliente vem com outro treco aqui (espremedor de laranja). Daí um cara fez uma embalagem pra ele que era assim (a tampa do espremedor virada ao contrário, sem aparecer a parte que entra em contato com a fruta). Só que isso no ponto de venda não vendia. “Olha, essa foto não está vendendo”. Eu vou lá na indústria, puta, e digo: “Isso aqui está uma merda, a dona de casa nunca vai saber que pombas é esse treco aqui. Tem que ser assim” (desvira a tampa). Aí, pô, como eu vou fazer... um treco... também não sei, tem que estudar cada caso.

É um mercado gostoso, é um mercado que gosto de fazer. Eu vou lá, crio o impresso, sempre com muita fotografia. Onde eu ganho do concorrente é na fotografia do produto. Estou fazendo uma embalagem pra uma fruteira. O cliente chegou com uma fruteira. Só que eu estou fazendo uma embalagem que seja um cesto de mesa que pode ser uma fruteira, o consumidor pode até colocar pão. Então, o produto serve para os dois. Então, às vezes, aqui eu mudo, entendeu. Aí, eu fotografo e faço as coisas diferentes.

Ah, eu fiz curso técnico de publicidade, também. Fiz curso que teve na faculdade, com um pessoal de São Paulo. Eu não me contentava com pouco. Eu gosto muito do que eu faço. Nessa área de produto, embalagem, onde hoje eu estou mais direcionado, a embalagem, tem livros muito bons. Tem norte-americano, japonês, dobradura de papel. Tudo o que tem na livraria, eu vou e compro. Se não tenho, vejo e compro. Eu estou sempre lendo. Mas da década de sessenta a oitenta para cá tinha muita diferença do que era feito em São Paulo. O trabalho fotográfico era de outra qualidade.

Em termos de produção, o layout de São Paulo era diferente. Não dá pra comparar varejo e indústria, mas uma vez eu vim de São Paulo com um cara, encontrei com ele na rodoviária, viemos conversando e ele me falou uma coisa que me tocou, eu lembro até hoje. Ele fazia Comunicação e eu disse que trabalhava na Clã. “Ah, na Clã!”, eu lembro, eu sei qual é a Clã, só não gosto uma coisa, todo anúncio assinado por vocês, olhando a gente sabe que é dá Clã”. Tinha uma personalidade. Mas na realidade, eu concordei com ele, um anúncio não tem que ter personalidade. Eu acho que todo anúncio da Clã daquela época, eu não sei se era porque a gente, lógico... acaba pegando (uma influência), ele é sempre dirigido por um cara que tem uma cabeça, o jeito de ver a coisa.

Ele falou isso que eu achei certo na época mas que hoje, pra mim, também é difícil não deixar uma embalagem diferente das outras, que ela sempre fica com a minha cara. É... ele falou o negócio... acho que aquilo destacava. Na época a Clã... você abria um jornal, você sabia qual era anúncio da Clã. Acho que é um defeito ter a cara de quem faz... até hoje eu procuro na prancheta tentar fazer uma embalagem ou uma fotografia que não fique muito parecida, com layout igual ao outro. Mas eu acho que a Clã foi uma escola, né.

Também a Clã é uma das maiores agências, que mais perdurou, né. Não sei, antiga assim... teve a Hugo Paiva, ela estava lá no auge e depois desceu. Eu tive muito trabalho da Hugo Paiva que não era (anúncio) classificado. Aí, já tinha o Milton da Pronome. Eu conheci o Milton lá.

O Milton, acho que ele tinha vindo de São Paulo, sei lá da onde veio. Aí foi pra Hugo Paiva, depois saiu. Aí, eu conheci o Aluísio na Hugo Paiva, lembra do Aluísio (Dias Lopes)? O velho Aluísio, ele era de criação, também montou uma agência com um outro cara que era de uma agência de navegação. Ele foi professor, doidão. Mas ficou mais de anos aqui na Hugo Paiva. Eu achava ele como diretor de criação muito bom. O Milton era diretor de arte. Você entrava no estúdio de arte da Hugo Paiva, dava três estúdios de arte da Clã, era enorme, cheio de gente, cacete! Você não tem ideia do que era. A sala de contatos era isso daqui, cheio de mesas. Era muita gente.

Eu só era requisitado na Hugo Paiva na hora que tinha que fazer algo especial, né. 90% eram classificados, aquelas mesas todas... não tinha (volume de produção). Então, quando era requisitado, eu falava com o Aluísio e o Milton. Não era só os dois que envolvia, atendiam a APE, outras coisas. Tinha redator, não lembro quem era, geralmente era gente estagiária da faculdade. Aí a importância maior era do pessoal do estúdio. A gente fazia naquela época, puta, anúncio grande e tal.

O Atendimento, eu acho que era uma mera ponte, né, entre a agência e o cliente. Lógico, uma ponte importante, digamos assim, a pessoa que ia contratar a agência, ela chegava através dos anúncios que a agência fazia. Então, tinha gente para entrar em contato com a pessoa (anunciante), tinha uma Sapataria Internacional, uma série de outros assim. Agora, se tirasse o contato, nossa...

Mas havia um certo... Toninho (Garcia, entre 1977 e 1978) falava que contato era “Office boy de luxo”. Na realidade, eu acho que era importante, porque todas as pessoas que trabalhavam na direção de arte, na criação, né, não podiam ter muito contato com o dono da empresa. Por quê? Porque aqui do lado tem uma estrela, do outro lado tem o cara que está te pagando. Você vai falar pra esse cara aqui, que sua arte, seu título aqui está ruim, pô! Uma vez eu fui com outro cara na Domus, e o Hélio (Cardoso) da Domus... o Hélio também... saiu no grito!

Não sei se foi pro Toninho ou se foi com outro cara, era um puta de um maluco. Ele era tão doido que, numa reunião, nós saímos da reunião e quando nós chegamos lá embaixo e eu tinha até esquecido o chinelo! “Fulano, vamos embora!”. Ai! Eu esqueci meu chinelo, e já estava lá embaixo... e nós saímos brigados, nós não, porque eu fui só acompanhando, eles brigaram porque o Hélio da Domus não gostou do anúncio e eles brigaram, entendeu. Ele dizia “eu quero assim e acabou!”. Entendeu... Então, acho que aí é que é importante o contato, o elo.

Acho que tudo aquilo (jeito) do (José Cássio) Miller, de repente, era só também (influência do cliente)... Daí ele levava isso pro Batan: “Olha Batan, isso... O Batan: “Porra, eu já te falei! Não é verdade essa merda! Não vou fazer isso no estúdio!”. Era. Tinha uns paus meio assim. E, às vezes, o Miller chegava com anúncios da Max Car, umas coisas assim, o cara não queria pagar a arte, o Batan dizia que não fazia. “Eu não vou fazer arte nessa merda”. O cara não paga a arte, ele não fazia. O Miller... é um trator, ele. Eu já saí com ele. Depois que saí da Clã. Eu já fui com ele (em Atendimento), ele é meio bom vendedor. Outros tempos, também.

Hoje tem gente que não se encaixa mais. Hoje, com a internet e uma série de coisas, eu faço catálogos hoje e nem São Paulo quero atender. São Paulo eu acho horrível. Você fala com o gerente de marketing. Aí, com o diretor de marketing. Aí, tem que passar por uma reunião. Uma reunião pra isso, uma reunião pra aquilo. Maior perda de tempo. Eu devo ser velho burro. Pra que perder o tempo? Então, eu só pego fábrica média a pequena, não quero fábrica maior. Se não, não dá dinheiro. Tu vai fazer um negócio, vai e volta, vai e volta, vai e volta, vai e volta. Você vai numa fábrica com trezentos funcionários, é uma fábrica pequena, quinhentos funcionários, é pequena. O cara (empresário) está lá no estoque, está vendo o estoque, está lá na máquina que quebrou, ele está lá na produção. Você vai almoçar lá na casa dele, come um churrasco com ele, vai tomar cerveja no bar com ele. — “Quanto você quer pra fazer isso aí?” — “Aí eu vou te cobrar...” - “Ah, está caro, vai...” — “Então, dá 50% agora e depois 50% quando eu lhe entregar”. Ah, é... o contato pessoal é melhor. O mercado... pode ser que mude, né. Muda muita coisa.

Nós chegamos a ter o Cidade de Santos, tu não lembra? E A Tribuna, olha, eu posso falar sinceramente, ela sempre foi sacana. Sempre teve aquela sacanagem... ah, porque aqui é uma cidade pequena. Você vai na praia, você encontra todo mundo, encontra diretor, encontra fulano de tal, sicrano, todo mundo pelado, sem gravata, tudo igual, tudo amigo. E sempre foi sacanagem, com comissão. Há não ser que, de uma época pra cá, tenha começado a ficar melhor, com sindicato. Ela fazia uma concorrência com as agências. Não sei se foi também da época que não tinha agência e começou a ter, que o Hugo Paiva nada mais era do que um corretor de imóveis, não tinha agência. Tinha aquele ranço do antigo. Mas a Tribuna sempre aproveitou, por falta de um outro veículo (forte).

Se a gente tinha só aquele veículo... se mau ou bom, era aquilo que a gente tinha. Mas eu não acho que ajudou as agências. Pô, ela, de repente podia ser mais interessante ter várias agências (no mercado) do que quinhentos corretores lá dentro, não é verdade? O anúncio chegaria mais pronto, não sei... É que eu sempre trabalhei na arte, a gente sempre brigava com a qualidade da Tribuna, era péssima de impressão, principalmente na minha área que era fotografia. Eu ia tirar uma fotografia, isso era uma puta fotografia. Na Tribuna era um borrão, mesmo. Aí veio aquele maldito (sistema de impressão) nylonprint!

Quando era clichê era maravilha a impressão. A gente fazia o clichê em São Paulo, prova em glacê pra Tribuna, ia o clichê. Depois, “vamos mudar o sistema... nylonprint, não-sei-o-que, a impressão vai melhorar”... O anúncio de jornal produzido era maravilhoso, era pra sair ótimo. Daí, quando veio esse nylonprint, nossa! Não tinha preto, era tudo assim cinza, lavado, cinza, horrível! Então, eu só tenho lembranças ruins do trabalho com o jornal. Primeiro, na minha área, de repente se fosse um jornal bom, tinha desenvolvido mais... foto colorida também foi um desastre. Até no começo.

Sei lá, no começo, as empresas já querem começar bem, né... Porra, A Tribuna desde o começo sempre foi... acho que acomodada, sei lá. A impressão do Cidade de Santos era uma maravilha. Era rotativa. Se era clichê, tinha que fazer clichê de zinco e outros de plástico que era para os outros veículos. Eu lembro de tabloide, que a gente produzia aqui, com o material da Domus. Tabloide... acho que agora começaram a usar um papel melhor. Mas o tabloide deles era com aquele papel jornal vagabundo, era horrível.

Eu acho que hoje as coisas evoluem muito rápido. Antes a profissionalização era mais curtida. Você formava o profissional, você tinha o past-up, tinha o layoutman, o artefinalista... ia evoluindo passo a passo. Hoje é muito rápida a coisa, né. De repente... eu acho a faculdade fraca, eu acho que a faculdade tinha, eu vejo pelos meus filhos, meu filho aprende photoshop na Faculdade de Comunicação da Santa Cecília. Comunicação, aqui... Fez photoshop, sinceramente... é curso que não tem nada a ver. É curso técnico, nada a ver com faculdade. Fez fotografia, pra quê? Não tem nada a ver. Acho que o curso de faculdade, ele tinha que ter uma aula (conceitual), uma noção como é que o cara pede a fotografia, como você pode fazer, pensar uma sessão e não ensinar a manusear, tirar a fotografia. Tem cara lá que nem sabe pegar numa máquina fotográfica. Pra que fazer isso? Se o cara quiser aprender, faz um curso técnico.

Agora, aprender photoshop, page maker... a faculdade de comunicação deveria ensinar mais teoria, uma coisa mais sólida, né. Um negócio que ele vai ter por vários anos da vida pra frente. Photoshop é aquilo e acabou. O que ele aprendeu na faculdade... a usar photoshop? Às vezes, eu coloco anúncio aqui pra arrumar funcionário, vêm uns caras da faculdade... tá louco, não sabem nada! Aquele moreninho veio da faculdade, ele é bom (exceção). E também, os caras que vêm só querem trabalhar no computador... É diferente, eu pego eles, digo que o negócio é o seguinte: a gente tem que pintar, tem que pintar azulejo, tem que quebrar, usar serra, furadeira, né. É um estúdio. O curso superior... até hoje o negócio (a evolução tecnológica e de recursos publicitários) é muito rápido. Daqui há cinco anos o que você aprende na faculdade não vale nada.

Eu acho que vai mudar o mercado com essa falha. E onde nós vamos pegar os professores? Se nós estamos formando esse pessoal, um batalhão de gente que praticamente saiu sem saber nada! Eu lembro na época em que eu era monitor do laboratório na FACOS, lá na Sete de Setembro, os professores vinham de São Paulo, tinham um puta currículo, tinham uma sala lá de produção, tinha uma sala de arte, os professores vinham de São Paulo, mas ninguém ensinava a ficar cortando letrinha, mas noção de layout e tal, ninguém ia pro laboratório aprender a tirar cópia, eu era monitor pra isso. O que eu fazia lá? Era um empregado, eu tirava as cópias dos trabalhos dos caras que estudavam. Então, o curso não tinha essa função (formação técnica). Hoje, se tiver um laboratório, é para o cara aprender a revelar fotografia. Essa é verdade.

Então, tinha um laboratório que montaram não sei o que, foi até o Távora que montou pra faculdade na época (início dos anos de 1970) e era pra tirar cópia dos trabalhos do pessoal que estava fazendo o curso. O Távora era um fotógrafo, ele fazia folhetos, mas ele sempre teve a Dynamic, era gerente na América Latina daqueles livros técnicos importados. Todas as coleções dos Estados Unidos que vinham pra Santos, de Santos a gente distribuía via mala direta pra todos os afiliados. Ele era importante. Daí vinham aqueles folhetos técnicos, folhetos de lançamento de livro e tal. E eu trabalhava com ele.

Eu lamento muito hoje o problema do ensino hoje. Eu vejo meus filhos... graças a Deus, eles se encaminharam em alguma coisa e conseguem sobreviver, entendeu, conseguem levar a coisa, ganhar dinheiro já aprenderam o caminho das pedras. Mas essas pessoas que estão saindo não vão arrumar emprego. Eu acho que faculdade deve ser melhor do que isso que está aí hoje. E eu nunca gostei de estudar. Ler, tudo bem, mas ir à escola... Acho que nem passou pela minha cabeça fazer faculdade. Eu fazia curso, fazia aquelas coisas (técnicas) que eu gostava e isso é que faz falta hoje. Bem direcionado. Curso bom. E quando a molecada também quer... mas é que eles não encontram (em Santos). Vai em São Paulo tem, mas aqui não tem. Lá em São Paulo você paga um curso de um dia é seiscentos reais. Já mandei meus filhos fazerem uma vez, paguei seiscentos reais. Mandei aquele menino ali fazer... paguei caro, porque aqui não tem.

Quando eu era funcionário da Clã, eu também era registrado como autônomo, eu cheguei já a emitir RTA (Recibo de Trabalhador Autônomo, cadastrado na prefeitura, com validade fiscal). E tudo valendo como nota de prestador de serviço. Então, essa nota é que servia pra pegar comissão. Eu acho que, de repente, se tem um cara que é só bom criador de um lado, e aquele cara só de atendimento de um outro lado, pô, é importante. A gente tinha também, até hoje tem, gente que só fazia atendimento mas fazia um pouquinho de publicidade lá, não tinha nada, era na casa dele, só, e acabou. E pegava coisa grande. Mas quebrou a cara.

Nossos Serviços

Nossas redes sociais

Nós Usamos Cookies.

Usamos cookies para garantir uma melhor experiência de navegação, bem como cookies de rastreamento para entender como você interage com o nosso site.

Veja nossa política de privacidade e nossa política de uso de cookies.